Música na atualidade – Uma breve introduçao
Matheus e Thiego 603
Para se ter bases para compreender o que acontece
nos inúmeros apontamentos da música na atualidade, é necessário,
principalmente num primeiro momento, tentar pensar o que é a Música
(como um fenômeno existente e ou como representação individual e
social, entre outros), além de observar algumas características
inerentes à produção musical e a que finalidades ela se presta.
Conta Armando Bugalho que, décadas atrás,
quando perguntaram para koellereutter quais seriam os caminhos para a
Música no futuro, este respondeu que a “música de pesquisa”
teria cada dia menos adeptos e se fecharia em pequenos contextos, a
“música das massas” teria por alicerces a função social, e que
praticamente qualquer pessoa poderia gravar e publicar suas próprias
criações, independente de selos e gravadoras. Ele, como hoje
sabemos, acertou em cheio nas três previsões.
Vou ( já complexificando um pouco a noção do
que seja ou não música) visando possivelmente expandir um pouco a
percepção daqueles que nunca pararam para pensar o que é Música
(se é que ela não é um mero constructo ou juízo), ao que ela se
presta na atualidade e a que nos prestamos quando a ouvimos, criamos
e cultivamos, abordar de forma breve os seguintes conceitos
(relativos, questionáveis, e que muitas vezes se interconectam) que
venho pensando e repensando com base em minhas percepções e
estudos: música como função social, música como fundo sonoro,
música de pesquisa e, na falta de uma terminologia melhor, o
que chamarei por enquanto de “música como expressão vital”.
Creio que, músicos ou não, as pessoas que tomarem contato com
determinadas expressões e impressões podem alterar o curso daquilo
que hoje chamamos Música e terem uma vida psíquica muito mais rica
e intensa do que a que tinham anteriormente, podendo, inclusive,
enxergar o mundo e a própria existência com novos olhos.
Tentarei ser o mais claro possível, mas há
possibilidade de algumas terminologias musicais não ficarem claras
àqueles que não tomaram contato com as tradições da música
ocidental e peço que comentem em caso de dúvidas, críticas ou
sugestões.
Música como função social:
A música como função social se define pela
organização dos sons com a finalidade de se atingir algo que está
além da apreciação dos mesmos e que, aparentemente, não possui
ligação direta com a música em ocasiões diversas. Em geral este
tipo de música toma por alicerces mensagens claras (em geral
remetendo a acontecimentos da vida da maioria das pessoas; amores,
anseios, perdas), repetições e padrões simples de se pensar e
memorizar – ritmos sem diferenciação ao longo de toda a música,
melodias e harmonias simples e repletas de clichês, letras curtas e
repletas de rimas -, a fim de conquistar grandes públicos e criar
situações e ou ambientes em que se possa dar alguma atividade
extra-musical. Como exemplo temos o baile funk;a micareta e o se que
servem, entre outras inúmeras coisas que poderíamos elencar, como
situação para encontrar novos parceiros.
Música como fundo sonoro:
A música como fundo sonoro é, após a
invenção da gravação e das tecnologias que a reproduzem (rádio,
televisão, mp3, etc) cada dia mais comum. Tal música geralmente
toma por alicerces melodias que variam pouco em altura e raramente
possuem grandes modulações e mudanças de intensidade na execução
(o que, consequentemente, criaria desconforto e exigiria mais atenção
do ouvinte), empregando largamente sons não vistos como dissonantes
em determinada época e ou contexto e padrões fixos de pulso e
andamento. Como exemplo temos vários standards de Jazz e algumas
músicas da MPB que são tocadas em bares e restaurantes, o mp3 usado
na caminhada como estímulo e fundo sonoro, o rádio tocado em baixo
volume e ao qual nem se está prestando atenção; todos geralmente
utilizados apenas para que o “silêncio” não tome conta do
lugar, como uma paisagem sonora (termo de Murray
Schafer) colocada não como arte, mas como parte decorativa de um
ambiente e ou como “narcose para os ouvidos”.
Música de pesquisa:
A música de pesquisa se define pelas
produções que tomam como alicerces a exploração das mais
diversas possibilidades de criação e utilização de
elementos musicais (ou mesmo “não-musicais”, em se tratando do
que foi convencionado como utilizável em produção musical até
determinado momento).
No Século XX, a música ocidental até certo
ponto foi elevada a categoria de ciência sistematizada e arte que
tende ao infinitesimal no que concerne às possibilidades de criação.
No início do século, Arnold
Schöenberg e Charles
Ives reviraram as formas de se pensar e ordenar a composição
musical, o primeiro partindo principalmente de novas formas de
ordenar e dispor os 12 tons utilizados nas antigas tradições da
música ocidental, o segundo fazendo proposições antes impensadas
(músicas com alicerces em sons aleatórios e do ambiente que nos
circunda, execução de músicas diversas sendo tocadas ao mesmo
tempo, entre outros). Com o passar dos anos, tal música foi sendo
expandida exponencialmente quanto às formas de entendimento e
produção da mesma, mas, para não me alongar muito, vou deixar para
outro momento uma abordagem mais detalhada “neste rumo”.
Música como expressão vital:
Tal conceito talvez seja o mais inverificável,
abrangente e questionável dentre os expostos até o momento, mas
vou, a cargo de reflexão e introdução, expô-lo mesmo assim. A
música como expressão vital se define por aquela que parte como
necessidade de seu criador, como uma inspiração ou
necessidade fisiológica que submete seu autor e o incita à criação
e busca de formas de se expressar, sem que o mesmo, salvo a muito
custo e recalque, possa controlar.
Tal conceito, como é óbvio, pode englobar e
gerar todo o tipo de música e expressão – produções que, por
consequência de um resultado que, a priori, não buscava a
comercialização, acabam fazendo sucesso, produções que figuram
entre as mais complexas propostas de uma época, músicas
ritualísticas que são passadas oralmente há milhares de anos.
Existem, por exemplo, aborígenes na África que
não usam roupas, não pintam seus rostos (traços característicos
em pouquíssimas culturas, mesmo nas que ainda não detém de grandes
tecnologias), mas que possuem, como única forma do que entendemos
como expressão artística num primeiro plano, a música há mais de
cinco mil anos, sem que a mesma seja sistematizada ou escrita – o
que não impede que, na maior parte das vezes, tenham ritmos muito
mais complexos do que os utilizados na música das antigas tradições
ocidentais e na música de cunho popular ou comercial.
Outro exemplo muito interessante é o caso de
Charles
Gayle, saxofonista que, esquecido pelos meios musicais, viveu
mais de 20 anos nas ruas, sempre tocando seu saxofone e dizendo que
sua música é dedicada a Deus. Gayle é geralmente classificado como
uma das grandes figuras do Free Jazz, mas, certa vez, quando
perguntado sobre seu “free jazz”, ele, desconhecendo o que se
tratava, perguntou o que era aquilo.
Produções assim geram perguntas como: o que leva
determinadas pessoas ou culturas inteiras a produzirem e cultivarem
músicas durante toda uma vida, ou mesmo durante dezenas de gerações,
sem que a mesma seja sistematizada ou sirva para funções
extra-musicais?
Finalizando:
Como os mais versados em Música podem ver, este
post não se propõe a ser sistemático, exaustivo, nem mesmo
aprofundado, e existem inúmeros conceitos e explanações que
podemos tecer aprofundando e criticando os esboços dos conceitos
expostos; serve, antes, como ponto inicial para reflexões e
apontamentos que quero tecer com o tempo, junto daqueles que
possivelmente possam ler e criticar. Como já disse em outras
palavras, acredito que, quando mergulhamos de cabeça no deixar-se
imergir pelo mundo dos sons, pensando e repensando sempre o nosso
lugar e percepção no mundo, podemos enriquecer em muito a nossa
vivência.
Será o que chamamos de
Música um fenômeno universal, um padrão
de sons e pausas aos quais fomos submetidos a acreditar através de
esquemas de reforço e punição,
uma linguagem?… Algo que se encontra.
Hoje em dia muita gente goste de escutar
sertanejo rock
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